
Uma das características do cinema europeu (sim, europeu, já percebem o porquê da referência) é a sua inclinação para tratar as relações interpessoais de uma forma real e despida de futilidades dispensáveis para a acção. Centram-se nos diálogos, nos planos longos e contemplativos, como forma de dar aos espectadores tempo para as suas reflexões.
A grande maioria do público é insensível a momentos pautados pela ausência de diálogos. Rotulam-nos de monótonos, pseudo-intelectuais ou, como se diz vulgarmente, "secantes". É certo que alguns caem no exagero que originam estes esterótipos, mas a maior parte das grandes obras do cinema europeu estão longe de se enquadrar nestas designações ignorantes.
Nobuhiro Suwa é claramente influenciado pela escola europeia, mesmo que com um estilo muito próprio e adaptado à realidade do seu país. A estrutura e a técnica de realização, numa primeira impressão, remete-nos imediatamente para um método semelhante ao de Ingmar Bergman ou mesmo de Manuel de Oliveira.
M/OTHER é então um filme que usa e abusa dos planos longos, dos silêncios desconfortáveis e, essencialmente, do improviso dos actores. O argumento está, a espaços, em branco, à espera de ser preenchido pelas experiências dos actores e pela naturalidade de um diálogo a dois, sem um texto previamente decorado. Se isto consegue por um lado ser positivo, na medida em que consegue um retrato credível da vida conjugal, por outro pode tornar o filme exageradamente parado e difícil de apreciar como um todo.
No final as nossas próprias opiniões dividem-se. Gostei muito, mas não voltava a ver tão cedo. É um filme que se supera e se afunda em porções iguais. Impossível por isso, para mim, dar-lhe uma classificação exacta.
 A minha classificação é de: algures entre o 2/10 e o 8/10.Etiquetas: Criticas |